Na verdade não era Bastiana, é que por mais que eu tente lembrar seu verdadeiro nome, não consigo, devido aos muitos anos que se passaram quando da ocorrência dos fatos que passo a contar. Filha de escravos que viviam nas fazendas dos campos de Palmas, pequena ficara órfã, casou-se já com certa idade, indo morar com seu marido em um lugar bastante retirado, no meio do mato, em um pequeno ranchinho por eles mesmo construído de pau a pique (madeira grosseira, sem preparo) com o chão de terra batida. Ali viviam de pequenas roças, plantavam o necessário para sobreviveram, onde tiveram dois filhos, uma menina e o Tonho.
Naquele tempo havia grandes áreas de terra que embora tivessem dono, eram pouco exploradas e muita gente simplesmente entrava nas partes mais longínquas e ali viviam, como foi o caso da Bastiana.
Por outro lado, neste mesmo tempo, existiam índios, da raça Kaingang, aqui na região que não estavam abrigados em toldos demarcados, e portanto viviam livres.
Para estes índios não existia a lei de propriedade, achavam que animais ou plantações eram de quem pegasse primeiro, e aconteceu em uma ocasião deles se apropriarem dos milhos verdes da pequena plantação da Bastiana e seu marido.
Foram expulsos do roçado sob ameaça de uma velha espingarda taquari, mas a partir deste dia iniciaram uma perseguição implacável à pequena família, culminando com a morte do marido a golpes de pau.
Bastiana e seus dois filhos vieram morar perto de onde vivamos e passou a ser de confiança para minha mãe que sempre usava seus préstimos. Devido a sua simplicidade e humildade, os filhos praticamente tomaram conta de D. Bastiana, embora ela chamasse a atenção para seus modos, de nada adiantava, e passaram a destilar sua falta de educação para todas as outras pessoas. Particularmente Tonho era o que mais fazia das suas. Criou um desrespeito profundo por nós que, quando pequenos, tínhamos a cabeça branca, prometendo que iria cagar em cima.
Por causa disso, várias vezes D. Bastiana discutia com ele, mas no fim acabava concordando dizendo: “Tonque se, tom é.”
Algum tempo depois mudamos e não mais fiquei sabendo de D. Bastiana e o Tonho que se não mudou de gênio, boa coisa não deu.