segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Diretores da Lumber

OS AMERICANOS

É interessante que quando nos referimos aos habitantes dos Estados Unidos chamamos de americanos, sendo que nós também somos já que vivemos na América.


De qualquer forma assim era conhecido um conjunto de pessoas que extraiam madeiras nas matas da região em que vivi minha infância.

Cortavam imensos pinheiros, os quais transformavam em toros e posteriormente transportados para o porto de onde eram levados de navio para seu país.

Seus caminhões eram diferentes dos demais por possuírem plataformas para carregamento atravessado, sendo o normal na época o corte de toros mais longos com vários pés de comprimento.

O que se falava naqueles tempos é que a madeira seria só fachada para um negócio mais rendoso, o que pode ser comprovado após a retirada de seus equipamentos e a saída definitiva da região destas pessoas.

No local onde estava à sede de seu empreendimento, que era vedado a entrada de qualquer pessoa, com o uso de um aparato de seguranças, foram descobertas muitas galerias cavadas na terra.

Fala-se que naquele local e em mais alguns outros houve a retirada de minérios, provavelmente urânio, que eram enviados para fora do país, não se sabe se com o conhecimento das autoridades ou clandestinamente.

O mais provável é que seriam mandadas grandes quantidades de minérios de forma ilegal já que os toros de madeira serviam como esconderijos para estes materiais.

A forma de escondê-los seria através do broqueamento da madeira, fazendo-se grandes furos que depois de cheios eram devidamente tapados.

domingo, 30 de agosto de 2009

A CASA DE PEDRA

Destas pequenas histórias da minha infância, esta é uma das poucas que não sou testemunha ocular, mas foi contada por pessoas da família e muitas outras que diziam ter visto este lugar.


Eu particularmente acredito que seria mais uma caverna natural que uma casa propriamente dita.

Mas de qualquer forma vou chamar de casa como estas pessoas o faziam.

Falavam de uma casa de pedra totalmente fechada com uma única abertura no alto pela qual se tinha acesso através de uma árvore, depois de entrar a escuridão era completa, não se via nada.

Dentro deste local soprava um vento intenso que não permitia manter nem uma tocha, vela ou qualquer tipo de fogo, e quero lembrar que lanterna ou outro tipo de luz artificial eram raros no interior e principalmente a mais de quarenta anos passados.

O que tinha de especial neste local era o que uma das poucas pessoas que havia entrado contava; o chão era coberto de uma espécie de areia que jurava ser ouro em pó.

Porque as poucas pessoas que ali haviam entrado não voltavam?

Diziam terem ficado amedrontadas com a escuridão e o vento forte e muito estranho que ali soprava.

Quanto ao ouro em pó disseram ter que soltá-lo para poderem fazer a escalada até a abertura para de lá saírem.

Provavelmente poderia ser apenas “estória”, mas muitos falavam do assunto, de qualquer forma não há como comprovar já que a área em questão ficou embaixo d água devido ao alagamento do reservatório de uma usina hidrelétrica.

sábado, 29 de agosto de 2009

LUGARES

Sempre nos lembramos de alguns lugares que fizeram parte de nossa infância, ou por um fato acontecido no local ou por ter um nome curioso ou ainda por ter alguma característica que chamasse a atenção.


No pequeno mundo em que eu vivia, uma curva da estrada, subida, ponte,qualquer que fosse o lugar tinha seu nome e a sua história.

Lembro de alguns lugares que para a maioria das pessoas, seria um lugar comum, mas para mim significava muito.

O pinheirão, embora tenha sido cortado, lá permaneceu seu toco e o nome continuou sendo o mesmo.

A pedra oca era uma laje no meio da estrada, quase sempre que passávamos por lá batíamos com outra pedra menor e ouvíamos um som de vazio em seu interior.

O jacu, lugar onde alguém havia visto a ave cruzar a estrada e por isto o nome permaneceu.

Lá no leão, costumávamos chamar o local onde tinha sido encontrados vestígios deste animal, mais tarde ficamos sabendo que tinha sido apenas uma armação de alguns trabalhadores para assustar um companheiro que sempre passava pelo local e tinha muito medo.

A igrejinha, ali em tempos passados havia uma pequena igreja de madeira que o fogo consumira, mas o nome permaneceu.

A volta grande, o nome já explica.

O cavalo morto, lugar bastante conhecido pelo fato ali ocorrido, após ganhar um prova de carreira em uma cancha reta existente nas proximidades, o cavaleiro comemorando a vitória deu alguns tiros de revólver para o alto e por descuido acabou acertando a cabeça de seu próprio cavalo campeão.

E muitos outros lugares que agora me fogem da memória...

O SACI

Muito antes de aprender a ler, tomar conhecimento do folclore brasileiro, antes mesmo de saber da existência do personagem de Monteiro Lobato,já sabia da peripécias do negrinho de uma perna só.


Interessante, eu era criança, mas os adultos também acreditavam que ele de fato existia e alguns acontecimentos pareciam comprovar isso.

Constantemente apareciam trancinhas feitas na crina dos cavalos, bem feitas por sinal, outras vezes na cauda e eram atribuídas ao saci a confecção das mesmas.

Quando se tornava difícil encontrar um animal desaparecido culpava-se ele, embora ninguém tivesse visto para comprovar.

Falava-se até que ele podia esconder pessoas e animais no alto dos pinheiros, o qual levantava através de redemoinhos.

Diziam que ele confundia as pessoas no meio do mato fazendo que elas perdessem o rumo e, portanto fossem para outro lugar e não ao que tinham planejado.

Eu em criança acreditava piamente na existência deste ser e de outros da mesma natureza.

A solução para ficar de bem com o saci e fazer com que ele desmanchasse alguma traquinagem era oferecer-lhe um pedaço de fumo em corda para seu cachimbo.

Lembro que muitas vezes, escondido dos meus pais, colocava um pequeno pedaço de fumo no bolso,quando era mandado sozinho para algum lugar,como medida de segurança para a eventualidade dele aparecer.

Quanto às trancinhas e algum tipo de estribo que faziam com a crina dos cavalos, algum malandro deveria ficar rindo da crendice da maioria.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O AVIÃO

Fato estranho se levarmos em conta que aconteceu em 1967, muito tempo atrás.


Certa noite, em horas avançadas, ouvimos o ronco de um caminhão,o que não era comum onde morávamos.Como a estrada passava bem perto da casa,vimos passar o veiculo com uma carga desproporcional,mas devido a escuridão e a mesma estar toda coberta,não soubemos do que se tratava.

Bastante tempo depois em uma visita, que fiz com minha mãe, a um morador distante alguns quilômetros de onde morávamos,quando brincava com outro menino,nesta época eu tinha seis para sete anos,entramos em um paiol totalmente fechado.

Este paiol não possuía nenhuma entrada, tanto é que arrancamos uma tábua nos fundos para vermos o que tinha lá dentro e, surpresa,havia um avião inteirinho,sem danos,igual aqueles que só tinha visto em revistas.

Lembro que era um avião pequeno, apenas para dois passageiros, além do banco do piloto e de outro ao lado.

Aparentemente tudo funcionava, pois mexemos em vários botões e principalmente no manche, que chamamos de direção.

Nas próximas visitas não consegui entrar mais no local, pois havia sido proibido ao menino.

Passado alguns anos mudamos do interior para a cidade e nunca mais soube de nada relacionado com o caso.

Ainda hoje lembro com estranheza o fato, pois naquele tempo um avião escondido não era um fato comum.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nonos Magnabosco

FOGUEIRAS

Nas noites frias do mês de junho, em comemoração aos santos desta época do ano fazíamos fogueiras, caieiras para alguns,tal como são feitas até os dias de hoje.


Eram pequenas fogueiras, ou lá em casa ou em algum vizinho, que serviam para divertir e estreitar os laços de amizade com os poucos moradores da região.

Os fogos de artifício de hoje em dia, nem pensar, além da dificuldade de encontrá-los,o preço não cabia no orçamento das pessoas simples daquele tempo.

A solução encontrada, para ouvirmos estouros e animar a festa, era a colocação de taquaras verdes dentro da fogueira que com o aquecimento interno de seus gomos, explodiam soltando um estouro similar aos foguetes e bombinhas.

A comida era a usual desta época do ano: pipoca, quentão,paçoca,pé-de-moleque,batata doce....

Todos contribuíam, para não onerar apenas uma das famílias.

Lembrando que sempre havia a reza do terço e demais orações para o santo do dia, o homenageado.

Sempre tinha música para animar e até saia uma dancinha.

Quando a lenha da fogueira havia sido queimada,restando apenas o braseiro ainda vivo,acontecia um fato impressionante, espalhavam-se as brasas e as pessoas passavam sobre elas andando de pé descalço.

Muitos não tinham a coragem de fazer isto, outros tentavam passar calçados e inexplicavelmente estes sofriam algum tipo de queimadura.

Este fato, de andar sobre as brasas, posso atestar com absoluta certeza,pois várias vezes fiz isso.

Nos dias de hoje já não faço esta proeza, falta-me coragem ou talvez tenha perdido a inocência e a fé dos meus tempos de menino.

Já de madrugada todos voltavam para suas casas e a festa era assunto para muitos dias.
                                           Rio Iguaçú

TEODORINHO

Quando pequeno conheci um senhor bastante idoso, havia inclusive sido escravo.
Ele e sua mulher, que não lembro o nome, viviam num pequeno ranchinho no meio do mato.
Sobreviviam de algumas coisas que plantavam e principalmente de alimentos que as pessoas levavam para eles.
Apesar de muito ser bom com todos, nós crianças tínhamos medo dele porque os pais diziam que quem não obedecesse seria dado para ele comer com “quirera”.
Quando sua esposa faleceu, o dono de uma serraria levou-o para morar em uma das casas da empresa.
Não ficou muito tempo, começou a desmanchar a casa para fazer lenha, principiando pelo assoalho,afim de fazer fogo-de-chão.
Um senhor de nome Dário, deu-lhe abrigo em sua propriedade, num gesto muito bonito.
Lá viveu Teodorinho mais alguns anos, recebendo alimento e cuidados, apesar de continuar vivendo em os casinha de chão que era de seu gosto.
Lembro que no dia de sua morte, correu logo a notícia e muita gente veio para seu velório.
Seu Dário, apesar de nem parente ser, organizou com grande desprendimento todo o funeral.
Inclusive abateu porcos e galinhas para atender a todos que haviam comparecido, alguns de bem longe.
Documentos, Teodorinho não tinha, mas os mais antigos calculavam sua idade em mais de 120 anos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

JOAQUIM CAIXA

1
Era um andarilho que conheci quando criança, o apelido veio pelo seu costume de carregar uma caixa de madeira às costas com seus pertences. Mais tarde passou a carregar sacolas de tecido.
Um sujeito avantajado, para nós crianças, parecia enorme.
Inclusive tínhamos medo dele.
Vivia pelo interior do município, de casa em casa.
Não pedia nada, mas todos sabiam que ele queria alguma coisa para comer.
E não ia embora sem antes receber alguma comida.
Todos davam, alguns por piedade, outros para livrarem-se dele,pois após comer,sempre ia embora,nunca posava nas casas,dormia no mato.
Lembro que usava sandálias enormes feitas de pneus e tiras de couro, feitas por ele mesmo.
Tinha um hábito muito estranho, no café que lhe era dado, misturava querozene,que deixava um odor repulsivo.
Sumia por muito tempo, andava para bem longe, quando menos se esperava reaparecia.
Quando mudei para a cidade fiquei anos sem saber do seu paradeiro.
Voltei a vê-lo quando eu já era adulto, em uma fazenda pelos lados do Rincão Torcido.
Não era o mesmo Caixa que me causava medo pelo seu tamanho, coitado, estava magro,cadavérico,parecia que tinha encolhido.
Já não vivia de lá para cá, estava permanentemente nas proximidades desta fazenda, aparecia nas horas das refeições para ganhar comida e voltava para um capão de mato que havia ali perto.
Neste dia fizemos uma maldade para com o velho Caixa, disseram que eu era um padre e que viera para levá-lo para o asilo na cidade.
Coitado, sumiu no mato sem menos esperar pela comida.
Nunca mais vi o Joaquim, sem fiquei sabendo como terminou sua vida.